quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Soneto "Língua Portuguesa" de Olavo Bilac

Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura.
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouvi: "meu filho!",
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

     No poema Língua Portuguesa, o autor parnasiano Olavo Bilac faz uma abordagem sobre o histórico da Língua Portuguesa.

     Lácio é uma região na Itália central onde se falava Latim, a língua do Império Romano. Muitas línguas derivaram do Latim, como o francês, o espanhol e o italiano; a última delas foi o português. Com a metáfora "última flor do lácio, inculta e bela", Olavo Bilac refere-se ao fato de que a Língua Portuguesa foi a última língua neolatina descendente do latim vulgar, falado pelos soldados da região italiana do Lácio.

    A Língua Portuguesa é a Língua que reflete nossa cultura, a Língua na qual nós construímos nossas identidades, com a qual nós nos manifestamos. Por isso Bilac, lá no finalzinho do século XIX dizia que a Língua Portuguesa é nosso esplendor, é nossa glória; sem a nossa Língua nós não seríamos o que somos. Na América do Sul o Brasil é o único país que fala português. Por isso, o português tem um certo aspecto de isolamento, daí a razão de o poeta chamá-lo de sepultura.

    Podemos também entender que no segundo verso, há um paradoxo: “És a um tempo, esplendor e sepultura”. “Esplendor”, porque uma nova língua estava nascendo, ascendendo, dando continuidade ao latim. “Sepultura” porque, a partir do momento em que a Língua Portuguesa vai sendo usada e se expandindo pelo mundo, o latim vai caindo em desuso, morrendo.

História da Língua Portuguesa
Língua Portuguesa - a última flor do lácio        "À medida que Roma conquistava novos povos, obrigava o uso do latim como língua oficial por toda a extensão do Império Romano. Havia duas espécies de latim: o clássico, falado e escrito pelas pessoas cultas, e o vulgar, apenas falado pelo povo. A modalidade imposta aos vencidos era o latim vulgar e, como os povos vencidos eram diversos e falavam línguas diferenciadas, o latim sofreu alterações distintas em toda região, o que resultou no surgimento dos diferentes romanços e posteriormente nas diferentes línguas neolatinas. 

     Após as invasões, com as influência e modificações do latim, diversa línguas e dialetos foram constituídos, como o catalão o castelhano e o galego-português. O galego-português, resultante do romanço, era uma língua falada na faixa ocidental da Península Ibérica (atual território da Galícia e do norte de Portugal), mas, à medida que as suas fronteiras adentravam o sul, esse dialeto alterou-se e acabou predominando. Assim, o galego desenvolveu-se como variante do espanhol, e o português, como a língua de uma nova nação (com os primeiros documentos redigidos nessa língua)."¹

     O Português se difundiu pelo mundo no período da navegação, período em que Portugal vivia um tempo de proeminência na política e na economia europeia, no século XVI, XVII, os navios portugueses singraram os mares levando consigo a Língua Portuguesa. 

     "A língua portuguesa chega ao Brasil com a colonização, o tupi foi usado como língua geral na colônia, ao lado do português, graças aos jesuítas que estudaram e difundiram a língua. Em 1757, o tupi foi proibido por uma Provisão Real. Com a expulsão dos jesuítas, em 1759, o português fixou-se definitivamente como língua no Brasil."²Atualmente, a Língua Portuguesa é falada por mais de 250 milhões de pessoas em todo o mundo, a grande maioria - quase 200 milhões - no Brasil. Falado nos cinco continentes, o português é a língua oficial de dez países: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, Ilha da Madeira, Arquipélago de Açores, São Tomé e Príncipe e Timor.

   O português é conhecido como "a língua de Camões" (em homenagem ao escritor português Luís Vaz de Camões, autor de Os Lusíadas) e "a última flor do Lácio" (expressão usada no soneto Língua Portuguesa, de Olavo Bilac. Miguel de Cervantes, o célebre autor espanhol, considerava o idioma "doce e agradável"². Em março de 2006, foi fundado o Museu da Língua Portuguesa¹, em São Paulo, a cidade com o maior número de falantes do português em todo o mundo.

Soneto "Língua Portuguesa" de Olavo Bilac